quinta-feira, 23 de abril de 2015

Brincam anjos querubins
Em mágicos carrosséis;
Declamam os menestréis
Sonetos e seus afins
Que verberam nos confins
Do cobertor estelar.
É assim de admirar
A natureza profusa
Em festa estão as musas
Em infinito bailar!
(aroldo camelo de melo)

sexta-feira, 26 de abril de 2013

SERÁ O CEU ONDE ESTOU?

Aroldo Camelo de Melo


 

A luz voltou a iluminar meu mundo.
Roguei que partisse a noite escura;
Enfim se foi o tempo de amargura.
Resgatado fui d’um poço profundo.
 

Aqui meu riso é farto e faceiro.
Até minha sombra leve flutua.
Brinco com o sol, flerto com a lua,
Sou amigo do Universo inteiro.


Se tenho sede, saciado sou.
Se tenho fome, logo me alimento.
Se choro, sou de todo contento.
Um verdadeiro ceu onde estou!

TEU SEMBLANTE JOVIAL

Aroldo camelo de melo



 O teu semblante
 Tua luz resplandece;
Tantos janeiros
E tua aura de estrela
Faiscante permanece.


O intenso verão dos tempos
Não emudeceu tua beleza;
Quedou-se a ruga por desgosto
De não poder grafar teu rosto.

 
Essa pele de veludo trigueiro
Emoldura teu corpo inteiro;
Teus lábios tão compulsivos
Estremecem meu ser impulsivo.

 
Teu perfume da flor bonina
Inebria a hora matinal.
É perene em minha retina
Teu semblante jovial.

VIVER É VENCER OS EMPECILHOS

Aroldo camelo de melo
 
esta brisa enevoada
encobrindo o horizonte
 
A memória entra em curto
esquece o fio da meada
 
um surto
e quase nada
segue seu curso
 
é preciso voltar aos trilhos
retirar o dedo do gatilho
 
viver é vencer os empecilhos!

sábado, 19 de janeiro de 2013

TEU ROSTO

Aroldo camelo de melo

  

Em vão foi minha procura no universo
De um rosto que teu rosto me lembrasse
Ou que ao menos esse rosto contivesse
As linhas que inspiraram os meus versos.

Rostos encontrei e tão diversos
Que me trouxeram outras miragens;
Buscar um outro em outras paisagens
É um tanto quanto controverso.

O teu rosto é uno e tão complexo
Esfinge de traços indecifráveis
Até os deuses acham impenetráveis
Já ninguém ousa encontrar um nexo.

É teu rosto um enigma tão secreto
Enevoado de bolhas purpurinas
Que do céu a abóboda cristalina
Talvez o represente por completo.

Assim um tanto quanto circunspecto
Me deslumbro com esta epifania
De anjos em suas longas romarias
Dando ao teu rosto de deusa aspecto.

 
 

 

 

 

 

PRAÇA DA BANDEIRA


 As fezes.

A praça
O ócio
O vício.

A praça
O fútil
O culto.

A praça
A conversa
O insulto.

A praça
O poeta
O anarquista.

A praça
O palco
O artista.

A praça
O abrigo
O mendigo

A praça
O mijo
(a)bunda.

A praça
O riso
As dores.

A praça
As flores?
Os olores!

A praça
Dos sonhos de outrora
Ao descaso d’agora!
 Aroldo camelo de melo
 

A praça
O pombo
As fezes.

A praça
O ócio
O vício.

A praça
O fútil
O culto.

A praça
A conversa
O insulto.

A praça
O poeta
O anarquista.

A praça
O palco
O artista.

A praça
O abrigo
O mendigo

A praça
O mijo
(a)bunda.

A praça
O riso
As dores.

A praça
As flores?
Os olores!

A praça
Dos sonhos de outrora
Ao descaso d’agora!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

NADA ME DECIFRA O PERGAMINHO AMARROTADO


Aroldo Camelo de Melo
 
Nada nada me decifra o pergaminho amarrotado
esse palimpsesto sem principio sem lastro
algo se alastra rasgando vértebras escancarando
braços boca que se abre num nevoeiro sombrio
é tarde um grito se agiganta no silêncio um mar
as ondas com suas espumas turvas um suor gélido
percorre veias numa voragem apavorante

Alhures apenas um rosto ruminando ossos
um peito se contorcendo numa vertigem dilacerante
que fazer para desentranhar esse grito preso na laringe
que fazer para libertar esse cão danado latindo em
desespero dentro de mim?

Se apelo aos deuses siderais escuto o ribombar
de um silêncio pétreo um eclodir de hiatos
corrompendo a corola do vento o horizonte se fecha
e as nuvens galopam em busca de outros ares
será necessário singrar o espaço romper obstáculos
quebrar a inércia dos deuses de barro?

Onde estão as omoplatas de titânio
os crânios de aço escovado e toda aquela
parafernália de princípios dos quaseandróides
que não me socorrem neste instante
de putrefação das ideias?

É preciso que se rompa esse espaço essa barreira
para que o verde floresça nos campos e essa aridez
do tempo se consuma e liberte esses ares subversivos
e tudo encontre seu eixo e tudo encontre a liberdade
das gaivotas esvoaçantes

Escrevo meu grito preso entre meus lábios meu liberto desejo
de mostrar meu rosto sem máscara meu corpo despido,
mas como me libertar dessas amargas amarras
dessas hipócritas escritas dessas desditas de um tempo pífio?


Libertarei minha alma desses infortúnios
espalharei no universo meu grito insano
silenciarei os corvos que me rodeiam

e direi as pedras em seu silêncio enigmático
que a ruptura é iminente para que se corrija a assimetria
do vento do tempo e que seja morta a voracidade
dos que conspiram contra os que ainda se embriagam  
da esperança da liberdade do amor entre os homens.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

ONDE VÃO OS COMPANHEIROS DESTA CAMINHADA?

 Aroldo camelo de melo

 

Onde vão os companheiros desta caminhada
Com seus ventres escancarados e seus olhos
Furados em pedra bruta?
Eu direi a eles destas libertinagens e gritarei
Aos surdos com suas ramificações pelos
Labirintos inconciliáveis que os tempos de silêncio
Se perpetuam numa singular aridez
E o açoite noturno se faz ouvir nos confins
Longínquos e impenetráveis.
Por onde anda o cavalo alado dos mares bravios
Mensageiro errante de esperanças vãs
Que não anuncia o instante apocalíptico
Que se evidencia nas clareiras abertas
Por estes ventos aziagos?
Ah! Jovens e antigos companheiros de jornada
Que posso eu fazer para arrefecer esta chama
Que se espalha e dilacera todos os laços?
Que faço para aplainar esta fúria esta volúpia avassalante
Que ocupa e corrompe todos os espaços?
Meus gritos silenciaram numa plataforma de pedra
E o meu sopro incapaz de apagar o incêndio das horas.
As forças se esvaíram e se acomodaram no agora
E eu cabisbaixo e patético me escondo
Na densa folhagem desse mundo desértico.

 

DE UM TEMPO PRECISO

Aroldo camelo de melo


De um tempo preciso para amadurecer
A chama que brota de sóis distantes
Porque a luz que me aquecia
Refletiu-se num espelho côncavo
E apagou-se numa vertigem do vazio.
A nudez do meu pensamento me faz receoso
E de mim nasce uma confusão
Que me leva à beira do cadafalso.
Minha boca se fecha para que eu possa
Ouvir os sussurros dos lábios
Que não querem saber
Do tropel esvoaçante do tempo!

 

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

COMO SE TUDO DESABASSE


Aroldo camelo de melo.

 

Como se tudo desabasse sobre meus ombros
E as omoplatas do universo se despedaçassem
E todos os sorrisos numa madrugada fria
Se desfolhassem.
Com se o respirar do vento emudecesse
E o tempo estancasse os sonhos
Assim se fez gérmen o medonho
E se proliferou como epidemia entre rumores
Das alamedas de pútridos olores.
Seria melhor se a mudez permanecesse imóvel
E as palavras se embriagassem do vinho
Ensandecido dos profetas do ontem
Porque os falsos deuses
Sairiam dos seus poços obscuros
E se revelariam no encontro das linhas obtusas.

sábado, 8 de dezembro de 2012

QUE SOMOS NÓS

aroldo camelo de melo

Algumas noites contemplo a cintilância do cosmos
E sinto, numa melancolia incoerente, quanto diminutos somos:
Um cromossomo em uníssono verberar na amplitude infinita
Navegando anonimamente no silencioso espaço.
Vejo o universo como um barco flutuante em harmônico compasso
com as estrelas bailando no salão oval do firmamento.
E assim pensativo, assim mudo, assim quedo
Eu me contento, enfim, em ser brinquedo
Nas mãos plenipotentes do Onipotente.
Busco insistentemente no âmago do meu imaginário
A placidez incessante dos astros longínquos e inaudíveis
Então mergulho nos calabouços dos sonhos ululantes
E acordo leve com a respiração ritmada do horizonte.
Que somos nós senão ínfimas partículas impuras
Poluindo a limpidez purpurina do firmamento?


 

terça-feira, 19 de junho de 2012


A NOITE SE FOI SEM DESPEDIDA
Aroldo Camelo de melo




O dia amanhece. A noite cala.
No seio da serra, a névoa é rala.
Depois das palavras vazias
Minha boca já não fala.
Desfez-se o tempo de fantasia.

Meu secreto murmurar
Canta ao ritmo do vento,
Guarda no peito a magia
E eu me contento
Com a fugacidade do tempo.

Adiante, trapos humanos a vagar
Embaçam-me a retina entorpecida.
Do pecado da noite em despedida
Apenas restou a palidez lunar.

Assim envolto nessas andanças
Achega-me à lembrança
Uma cena de Pedro Almodóvar!
A vida é uma peça teatral sem intervalo!

segunda-feira, 14 de maio de 2012

ANJO PERALTA
Aroldo camelo de melo

Em estado de torpor navego teus montes,
Galopo tuas planícies de simetrias agudas.
Todas as luzes do universo piscam
Denunciando tua beleza. A noite escura dança.

Que cinzel da natureza te esculpiu?
Teu mal é néctar. Teu pecado é éster.
Teus olhos são dois sóis incandescentes.

O verbo do tempo te calunia: indecente.
E tu absorta em enigma profundo.
Tua aura, anjo peralta, clareia o mundo!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

É TUDO UM CONCERTO

Aroldo camelo de melo

É tudo um concerto.
Orquestrado? Talvez.
Incerto? Não sei.
O certo é que é um concerto
De penumbra e claridade
De barulho e silêncio
De morte e eternidade.
Mas quando e onde
Se a imensidão não tem idade?
A vida é o que eu escrevo.
Se eu digo vida, é vida,
Se eu digo morte
A sorte está profetizada.
Somos passageiros
De um trem veloz
Que não sabe aonde vai.
Um rosto não é mais que um rosto,
É só um traço num livro que não se lê:
O grande livro da vida
Do ser do existir!

domingo, 8 de janeiro de 2012

CORRIGIR É PRECISO


aroldo camelo de melo


Contemplas a tua aura
Em teus derradeiros passos
E verás que é necessário colorir
Os aceiros da estrada vespertina
Porque na jornada que se finda
Negligenciastes no dever
E fostes silente com teus medos
E incoerente fostes ao se deixar levar
Pelos ventos taciturnos que sopravam agouros
E te lançavam de encontro ao vazio ancoradouro.
A verdade murmura aos teus ouvidos
E deves obedecê-la sem deixar resvalar na língua o olvido.
Eis a vertente da sabedoria: saber distinguir sombra e claridade.
Assim o manto aveludado e monótono dos ceus
Será o estrado horizontal onde descansarás teu alquebrado corpo!


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

CRUCIFIXÃO


aroldo camelo de melo

Meus pés pisam o último degrau
E na culminância não me encontro.
A avalanche soterrou tudo. Pronto,
O que aconteceu com a minha nau?


As velas antes içadas e voantes
Agora aos farrapos pedem socorro.
Empaco ou corro? Vivo ou morro?
É tempo de jornada alucinante.

Grassam nas alamedas os rumores
De que minha embarcação naufragou
Nos mares bravios de minhas dores.

A minha imagem desbotada e fria
Denota que um anjo ruim beijou
A minha face e com ela fez orgia!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Sou mais palhaço que mendigo


Aroldo camelo de melo

Sou mais palhaço
Que mendigo
E se maldigo
Com estardalhaço
Não é pelo destino
Malogrado
Porque esse
Vai muito bem
Obrigado.
Às vezes
Dizemos chuva
Quando faz sol
Só pra contrariar
A beleza do arrebol.

SONHO APAGADO

Aroldo Camelo de Melo

Quando criança
Pensava-me
Um nauta espacial
E via os planetas
Como bolas de gude
Dançando no Éter.
Cresci
E o nauta
Se tornou perneta,
Perna de pau.
Um corsário
De outra nau,
Uma caravela
À deriva,
Perdida
Nos gélidos mares
Da vida!

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

DO NADA AO SILÊNCIO



Aroldo camelo de melo


se em nada me faço
nesse compasso
nada eu hei de ser
e se é esse o meu querer
porque assim me sinto
um nada liberto,
do nada
me acoberto
só para viver
no meu silêncio
só pra morrer
em paz
no meu silêncio!

SEM DESCULPA


aroldo Camelo de melo



o coração em acelerada
pulsação.
mais uma vez
em flagrante delito.
sem desculpa,
eu me demito!

olho por cima
dos óculos pequenos
o olho da rua.
envenenado
com meu veneno.

vou juntar
os meus trapos
e farrapos.
esvaíram-se as quimeras,
a noite abandonada
me espera.

o tempo me encara
com a cara amarrotada
e me cospe uma ventania
desalmada.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

NO MEU CREPÚSCULO


Aroldo Camelo de Melo


No meu crepúsculo
o que restará de mim?
Nem os músculos,
 os ossos.
Talvez,
Com muito apelo,
os últimos fios do cabelo.
As lembranças
serão rastros
apagados sobre a areia.
Só o chorume
com seus queixumes
escorrerá pelas raízes subterrâneas.
No meu crepúsculo
talvez
só os meus encalhados
opúsculos
restarão esquecidos
pelos “sebos” empoeirados.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

ENCRUZILHADA



Aroldo camelo de melo


O problema
Da encruzilhada
É que quando
Lá me encontro
Vejo
Infinito rumos
E essa abundância
De caminhos
Me deixa sem opção!

NÃO MENOSPREZE A SORTE



Aroldo camelo de melo


Invisível se fez
O cavalo selado.
Nem escutei
O seu tropel.
Também
Entretido
Chupando cana
Me lambuzei
Com a cabaça
De mel!

INSÔNIA



Aroldo camelo de melo


Cansei os meus
Anjos protetores.
Olha que era
Uma legião!
Se foram
E me deixaram na contramão.

E agora
Anjos malfeitores
Invadem minha seara
Desguarnecida
E nas madrugadas
Fazem algazarra
Nas minhas feridas!

Augusto poeta dos Anjos



Aroldo camelo de melo



No bagaço do engenho
Pau D’arco
No paço da casa
De fazenda
Asmático
Augusto
Cresce
E se faz homem
Sorumbático
E vai moendo
Remoendo a sorte
Poe(a)mando
A morte
Essa consorte
Insofismável.
Augusto poeta
Dos Anjos da morte
Do verso inflamável
Das musas, um forte!

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

BREJEIRA

para a mulher da minha terra
aroldo camelo de melo

Tu passas com ares de leopardo
Olho e só vejo um vulto fugente,
Faísca de um fogo tremeluzente
Que me atinge como um petardo.

Cintila no ar teu cabelo, tua tez
Roxa com aroma de frescas frutas,
Límpida como água de uma gruta.
Igual a ti, brejeira, Deus não fez!

E assim sublime, sonho-te bacante,
E ao sonhar-te, sinto-me feliz infante
Ao ganhar um prêmio, um louro, um troféu.

Quis auguro acaso eu fitar teu rosto,
A me deleitar, em êxtase, a posto
Com os anjos, arcanjos e todo o céu.

FOGO ARDENTE


Aroldo camelo de melo

Se o favo que encontro em tua boca
não fosse o néctar que se colhe da flor,
não me feria a alma nem traria dor
nem espasmos que no palato espoca.

É sonoro o que desliza em tua fala,
é harmonia que ecoa no infinito,
é brandura que aplaca o meu grito,
é melodia que soa e não se cala.

Minhas pupilas se abrem em euforia
no nascer incandescente de tua imagem.
É visível meu embaraço e alegria

quando me afogo no fogo dos teus braços.
Até a lua perde o rumo nas paragens,
nos confins, na imensidão do espaço.

A VIDA É LAPSO EM IMINENTE COLAPSO


Aroldo camelo de melo

Após tantos recomeços
Me vejo
Ainda no marco inicial
Da idéia
De um caminho sem nó
Onde ser
É nunca estar só
Onde estar
É só
Um ponto referencial.

A vida é um lapso
De tempo
Sempre refém
De um possível
E iminente
colapso

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A FACA AFIADA QUE SANGRA O CORAÇÃO



Aroldo Camelo de melo

não se trata
do esquivo
de um erro

mas condenar
sem clemência
ao desterro
uma alma
em desespero
é  atroz

a atirar
a primeira pedra
não sejais vós

deixai que
o remorso
a contrição
seja a faca afiada
que sangra
o coração

TEMPO INSUPORTÁVEL

  
Aroldo camelo de melo



Já não suporto
Essas noites
De soluços teatrais

Tudo se parece
uma confraria de perjúrios
De abutres ensandecidos

Os ceus se esvaíram
Depois que todos os profetas
de badulaque prevaricaram

Lançarei meus gládios
Em fúria no seio
dos hipócritas

Violarei seus túmulos
Caiados de corvo

Incinerarei os altares dos templos
Onde habita
Legião de anjos mentirosos

Queimarei todos os cânones
Dessas divindades aleivosas
E sobre as cinzas
                               Edificarei um império anarquista.

QUEM SOU?



Aroldo camelo de melo

Sou igual, mas não uniforme.
Sou longe de uma engrenagem
Sem nome.
Sou a angústia que não dorme
E me consome.
Minha alma é um labirinto,
Um paradoxo inconcebível.
Só me entendo
Quando a ironia
Traz até a mim
Seu cântico de alegria.
Minha crença é a descrença
No que creio
E assim de permeio
Sou sombra e luz,
Agonia e êxtase,
Gravidade e leveza.
Não tenho certeza
Do que penso
Nem o que sou.
Não tenho fé
Naquilo que sou convicto.
-Eis o veredicto.
Quem sou?

TREM DESGOVERNADO



Aroldo camelo de melo



Aos tombos, um trem desgovernado.
Como frear essa multidão de entulho?
A minha alma olha o calendário
E me avisa: o fim está próximo.

As estrelas me namoram
E eu nem olho suas piscadelas.
Nem sei quem sou e ainda me acho muito.
Um chamado me acorda.

É a minha voz refletida no espelho:
Reverbera meus medos.
A minha sombra, cabisbaixa,

Se esconde envergonhada
Porque meu corpo está nu.
O vento já não me questiona mais.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

PROSA DO ANO BISSEXTO



Aroldo camelo de melo



O novo ano se aproxima, já vem vindo a galope.
Que não seja de indigesto trote, esse ano bissexto,
Mas já chega numa aurora enegrecida:
O chinês mira o mundo e levanta a batuta,
E prá contenteza do capeta, na Rússia
Ressurge com força, Putin, o filho da puta.
Menos mal: a Itália se livrou de Berlusconi, o sacana.
A Europa empobrecida e a América do Norte
Abusaram tanto da sorte,
Podes crer, andam nos pedindo emprestado,
Quem diria, pedindo emprestado ao Brasil.
E eu já disse, dinheiro pra aqueles safados
Só se for a juros mil, porque em recente passado
Eles nos esfolaram e nos deixaram de tanga
E ainda nos mandaram uns capangas
Nos dar uma boa surra
E ficaram de longe assistindo, gritando “urra”.
Dizem que ano bissexto é ano sem vergonha.
Assim nos disse Vinicius que pior só fazendo de encomenda
E assim o disse se referindo ao ano de confusão tremenda,
O famigerado 64.
Ano em que os fardados deixaram o povo de quatro.
A mando dos americanos, montaram uma urdidura, 
Deram um golpe de estado e implantaram a ditadura.
Eita, tempo carrancudo. Não se podia abrir a boca.
Se tinha três reunidos numa esquina ou botequim
Jogando conversa fora,
Logo, logo, sem demora
Aparecia uma patrulha ou guarnição
E aos socos e pontapés
Empurravam os manés nos fundos de um camburão.
Mas vamos deixar o passado prá lá, 2012 está aí.
E dizem uns profetas de araque que o mundo vai explodir.
Que não expluda nem prá mim nem para os meus,
Porque o mundo só explode para quem morreu.
Explodido está o Iraque. Esse está esfolado.
O americano saiu de lá e deixou um cenário desolado.
Lá, gastaram um trilhão, foram embora
E deixaram o povo de pires na mão. Digo, de bomba na mão.
Que o ano de 2012 nos traga mais poema e mais poesia
Porque o povo está necessitando de muito mais fantasia.
Chega de tanto estresse
E que Deus derrame suas benesses
No seio do povo Seu.
Que o ano de 2012 nos traga paz e esperança, mesmo que tardia
E que não falte o pão na mesa de quem não comia...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

PORQUE É NATAL



Aroldo camelo de melo


Porque é natal
Estou como se o dia nunca fosse noite
E todos os tentáculos que me amarram
De uma só vez afrouxassem os nós.
Estou diante da liberdade mais completa
E todas as incongruências dissolvidas.
A minha língua calou-se para ouvir
O ritmado sibilar da concordância.
Vejo o sinal da paz piscando no horizonte
E assim atravesso todas as vertentes aziagas 
E descanso a cabeça numa cachoeira de águas cristalinas.
O meu desejo é que o langor que se abatia sobre mim
Desapareça numa espiral do cosmos infinito
E se torne perene, crie raízes e inunde todos os corações
Esse vendaval de felicidade que me alaga a alma.
Porque é natal! Tempo ordeiro.
Deus nos mandou o Cordeiro!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

POEMA DA DESPEDIDA


Quando de minha aposentadoria
aroldo camelo de melo

Chegou a hora. Estou me indo.
Não! Não levarei comigo nenhum resmungo.
Guardarei os ideais com quais comungo
E o torpe esquecerei num vão profundo.

Enigmas, muitos desvendei, 
Outros, a mim insolúiveis, posterguei
Mas não lamento os parcos e os percalços
Que me atravancaram os passos. 


O carimbo que o passado me grafou
É despojo que transformei em versos.
Pois aqui, neste poema, confesso,
Foi-me fonte fantasmagórica.

Meus velhos sonhos são perenes
E caminharão comigo ad eternum
Mesmo que a utopia os abandone!

Os pesares, não os recordarei
Pois melhor foram os ares
Pelos quais voei.

No mais, foi bom ter sido eu,
Foi boa a luta que lutei,
Foi bom ter sido o que sonhei!